Picture by Harry Ekman |
Errar pelas gramas secas,
por alamedas,
e orlas
Perseguir pregos enferrujados
e algumas mariposas
rotas,
também daquela cor
Descobrir conluios
Reparar,
entre os indivíduos que recolhem ervas,
e verbas
e versos daninhos,
e verbas
e versos daninhos,
certos insetos cínicos
de uma imoral imortalidade
Parece
que pra se fazer eterno, tarde afora,
que pra se fazer eterno, tarde afora,
só inseto tem ciência
(criatura simples,
que nem gente,
nem nunca
não vai saber)
É preciso afrouxar,
É preciso afrouxar,
com jeito, silêncio
e candura,
e candura,
o laço lento da tarde
e seu sunset de cetim
Depois convocar vaga-lumes
e seu sunset de cetim
Depois convocar vaga-lumes
com uma penca de pardais
Chamar dois vira-latas,
com seus dois homens de bem
pra cegar o lusco-fusco,
pra serenar as varandas,
pra calar a cigarra
que excita os colegiais
Tem que ir, sem dinheiro e sem armas
lá pra lugares ermos
e gente pouca,
e gente pouca,
onde corre uma brisa
miúda,
miúda,
úmida,
sem calcinhas,
que enlambece a
crista dos tempos
e arrepia capinzais
Lá,
tem raízes apodrecidas
tem raízes apodrecidas
que se esfacelam
em três ou quatro ilusões
em três ou quatro ilusões
Lá caem pedaços de céu
estrelado,
salpicado
pela caspa divina de Deus
Lá um sapo desses,
de varejo,
de varejo,
que já mija sem
veneno,
sem vergonha,
sem ninguém,
sem vergonha,
sem ninguém,
se compadece das ruas,
e vestes,
e botas
e vestes,
e botas
dos peregrinos e generais
Do ocaso ao acaso,
com sossegos,
sem censuras,
sem censuras,
se acabrunham as penumbras,
encolhem-se as calçadas,
encolhem-se as calçadas,
e as tocaias fenecem
A bunda se assenta no chão,
em colos de mãe,
em balanços,
em colos de mãe,
em balanços,
em placidez
Depois,
feito poste,
pinheiro,
honradez,
pinheiro,
honradez,
a cabeça se endireita,
se aprumam as costas,
e o silêncio cai
Caem cortinas,
cai também um grilo,
cai também um grilo,
sem um grito,
mudo,
nu,
nesta sopa rala
de vida
O tiritar perpétuo é engolido a colheradas,
com devoção,
fé,
fome
e coentro
Se sacia o ser que sofre,
se sacia o ser que sorve
o inseto e seu silêncio
o inseto e seu silêncio
servil
Permanece o sibilar constante,
e os vasos nas janelas,
e as flores,
e as virgens,
e as flores,
e as virgens,
e blocos de concreto
Permanecem,
na eternidade terna da tarde,
na eternidade terna da tarde,
fantasmas,
e amores,
e desejos
e amores,
e desejos
e a prova,
e o almíscar
que você deixou por aqui
e o almíscar
que você deixou por aqui