domingo, 8 de fevereiro de 2015

Sina













Noite de versos, lamentos
ajoelhado aos pés da rima
Mãos em prece no peito,
olhos voltados pra cima
Em seu devoto soneto,
ele recita uma sina

Primeiro foi Rosa,
mais beata não havia
Era tanta santidade
que rezava todo dia
Foi ungida pelo padre
no calor da sacristia

Depois foi Beta, a perua,
metade de sua idade
Desfilava pelas ruas
e nas festas da cidade
Acabou ficando nua
pra virar celebridade

Mais tarde, Beatriz,
que diziam ser demente
Tirou dele o que quis:
as calças, a alma, a mente
Foi por apenas um triz
que lhe sobraram os dentes

Em seguida veio Paula,
peituda, bunduda, bombada
Todo dia tinha aula,
supino, pico e pedalada
No bíceps do personal
se excedeu na pegada

Então, Vera, a poetisa,
que chegou como quem sonha
Trouxe flores e brisas,
mas adormeceu tristonha
O amor acordou em cinzas
do cigarro de maconha

Dizendo viver de prana,
Maya veio afinal
Buscava pelo Nirvana
com luz, yoga e cristal
Tentou levá-la pra cama,
só levou o corpo astral

Então foi beijar a boca
da musa do baile gay
Mas logo dormiu de touca
caiu o cetro do rei,
e a rainha da vida loka
nas pickups do DJ

Decide tomar um porre
e no auge da bebedeira
Sorri como quem morre,
sacode pouca poeira
Finalmente Deus socorre
nos lábios da bela freira

- Deus sabe que mereço
e que eu sempre fui fiel
Já teve tanto endereço
o meu corpo de aluguel,
só não posso pagar o preço
de um pedacinho no céu

- Deus é amor, meu querido,
e você precisa de um lar
Mas não é somente abrigo
aquilo que eu vou te dar
Muito mais que ombro amigo,
uma cruz pra carregar