segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Eu nunca mais vou trabalhar


Rogério Chimionato é um cara que está viajando pelo Brasil, sem grana, desde 2014. Na sua página no Facebook, Rogério fez a seguinte pergunta:
"Se a sua sobrevivência estivesse garantida, se você não precisasse de dinheiro, como seriam seus dias? O que você faria, a que se dedicaria?"

Como uma espécie de sincronismo, este post rolou na minha tela imediatamente após eu ter aquele mesmo pensamento.

Comecei a comentar no post, mas, como de hábito, o comentário tornava-se excessivo e pretensioso se comparado às respostas sucintas.

Vieram então os Desengonçados a me salvar, com seus campos propícios a excessos e pretensões.

Eis portanto o que eu farei (sem condicionais aqui), quando eu não precisar mais me preocupar com grana:

Aprender jardinagem, fotografia, marcenaria, história da arte, linguística, tricô, crochê, pintura, os segredos dos neutrinos e tudo mais o que houver pra aprender.

Permitir-me o prazer da contemplação. Olhar o mundo sem pressa, sem hora para dormir. Yoga será prática rotineira. Liberar sensações para que elas tomem o lugar das razões aprendidas.

Ler todos os livros adiados.

Sair por aí a participar de mutirões, iniciativas comunitárias e rodas de viola.

Aprender a tocar viola. Triângulo, pelo menos.

Satisfazer os desejos antigos das pessoas que eu amo. Oferecer a elas o meu tempo, levá-las a lugares de sonhos.

Ponto essencial: uma secretária particular. Nada de preocupações com contas, bancos, cartões, fornecedores de serviços, supermercados, chamadas telefônicas e qualquer outra atividade fruto da roda-viva urbana.

Morar no mundo. Não apenas viajar, mas viver meses, talvez anos, no mesmo lugar. Será como ter várias reencarnações na mesma vida, conhecendo e perdendo gente, conhecendo e perdendo lugares, hábitos e sabores.

Sentir preguiça sem culpa. Acordar pra nada fazer, nada aprender, ir a lugar nenhum.

Ter sempre um lugar pra voltar. Como tudo é uma questão de tempo, eu já posso segredar como será o meu lugar, aquele para o qual voltarei. Você me faria uma visita num lugar assim?
 
Casa antiga, grande varanda, sótão com janela ampla de frente para o mar.

Nesse sótão (ao qual se tem acesso por uma escada de madeira), há uma escrivaninha pesada repleta de livros de capa vermelha. O notebook está enfiado ali, em algum lugar, o Word aberto em oito poesias nunca acabadas.

Da foto oval na parede, meus pais aprovam meus sonhos. Da praia deserta, meu amor acena.

O resto é acessório. Porque o vil metal terá comprado o bem mais precioso desta vida: tempo pra viver.