quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Roube Este Texto



Abbie Hoffman (30/11/1936 - 12/04/1989), ativista americano que
 participou dos movimentos por direitos civis no final do século 20, foi  um expoente no cenário político americano.

Hoffman, em sua permanente luta contra as guerras e contra o status quo americano, escreveu, entre outros, um livro intitulado Steal this Book (Roube este Livro).

O livro, escrito quando estava na prisão, apresenta-se como um manual de táticas para a derrubada de poderosos e corruptos.

O Poder - como alerta o ativista - não é privilégio de governos. Dele compartilham os donos do capital, das armas, das terras e da informação.

Abbie Hoffman merece ser lido sem preconceitos. Não é preciso concordar com suas propostas de ações anarquistas. Nem é preciso concordar com os motivos que originam aquelas ações. Mas é preciso considerar possibilidades - obrigação (e prazer) para toda a mente livre.

O texto abaixo é uma tradução parcial do preâmbulo que resume o capítulo 1 (SOBREVIVA) e o capítulo 2 (LUTA!).


Roube este Livro
(por Abbie Hoffman)

A cadeia - pós-graduação da sobrevivência – é local apropriado para escrever esta introdução.

Aqui você aprende a usar creme dental como cola, a converter uma colher em faca e a construir intrincadas redes de comunicação.

Aqui você aprende também a única reabilitação possível - o ódio à opressão.

Roube este livro é, de certa forma, um manual de sobrevivência na prisão chamada América. Ele prega a fuga dessa prisão. Ele mostra exatamente como colocar a dinamite que destruirá as paredes do poder.

O primeiro capítulo – SOBREVIVA - é um potencial programa de ações para a nossa nova nação.

Os títulos dos capítulos expressam as exigências de uma sociedade livre. Uma comunidade onde a tecnologia produz bens e serviços para quem precisa deles - sem distinções.


Capítulo 1 - Sobreviva!


O capítulo 1 convida os Robin Hoods da Floresta de Santa Bárbara para roubar os barões, para roubar os ladrões, para roubar os donos dos castelos do capitalismo.

Isso implica que o leitor já esteja ideologicamente definido, que ele entenda feudalismo corporativo como o único roubo digno de ser chamado Crime, pois é cometido contra o povo como um todo. Se isso é considerado legal ou ilegal é irrelevante.

O dicionário da lei é escrito pelos chefes da Ordem. Nosso dicionário moral diz para não roubarmos um dos outros. Roubar de um irmão ou irmã é mau. Não roubar as instituições que representam os pilares do Império dos Porcos é igualmente imoral.

Comunhão dentro de nossa nação, caos na deles. A mensagem do capítulo é esta: SOBREVIVA!



Capítulo 2 - Luta!

Nós não podemos sobreviver sem aprender a lutar - esse é o ensinamento do segundo capítulo.

LUTA! separa revolucionários de bandidos. A finalidade do capítulo dois não é foder o sistema, mas destruí-lo.

As armas são cuidadosamente escolhidas. Elas são feitas em casa, elas são projetadas para uso exclusivo em nossa selva eletrônica.

Aqui alguns vão encontrar uma ampla prova da nossa natureza violenta. Mas, novamente, o dicionário da lei nos falha.

Assassinato em um uniforme é heróico, em trajes civis é crime. Anúncios falsos recebem prêmios, falsários acabam na cadeia.

Preços inflacionados garantem grandes lucros, enquanto ladrões são punidos.

Políticos conspiram para criar motins na polícia e vítimas são condenadas nos tribunais.

Alunos são mortos a tiros e depois indiciados como os criadores de problemas por júris suburbanos.

Um exército moderno, altamente mecanizado, viaja 9.000 milhas para cometer genocídio contra uma pequena nação e, em seguida, acusa aquele povo de agressão.

Proprietários da cidade permitem que ratos mutilem crianças e depois se queixam da violência nas ruas.

Tudo às avessas.


Uma Nova História

Se nós internalizarmos a linguagem e as imagens dos porcos, estaremos fodidos para sempre.

Deixe-me ilustrar o ponto.

A América foi construída sobre o massacre de um povo. Essa é sua história.

Há muito tempo nós assistimos uma infinidade de filmes que demonstram a benevolência do homem branco.

Jimmy Stewart, a síntese da justiça, coloca o braço em torno de Cochise e conta como índios e brancos podem viver em paz. Basta que ambas as partes sejam razoáveis, responsáveis e racionais (os três R’s que os imperialistas sempre ensinam aos nativos).

- Você vai encontrar pasto bom do outro lado da montanha - garante Stewart - Pegue o seu povo e vá em paz.

Cochise, bem como milhões de jovens no balcão da aprendizagem, estava sendo tratado como carta fora do baralho.

Até entendermos a natureza da violência institucional e como ela manipula os valores e costumes para manter o poder de poucos, vamos permanecer presos nas cavernas da ignorância.

Quando concluírmos que ladrões de banco em vez de banqueiros deveriam ser os administradores das universidades, então nós começaremos a pensar com clareza.

Quando encararmos o Banco da América e o Centro de Desenvolvimento e Pesquisa Matemática do Exército  como fossas de violência, preenchendo as mentes dos nossos jovens com ódio, colocando uns contra os outros, então começaremos a pensar como revolucionários.




Frases de Abbie Hoffman:

"Liberdade de expressão significa o direito de gritar teatro! em um incêndio lotado."

"Torne-se um internacionalista e aprenda a respeitar a vida. Faça guerra contra as máquinas - em particular, contra as máquinas estéreis de morte corporativa e os robôs que as protegem."

"Revolução não é algo fixo na ideologia, nem é algo adaptado à determinada década. É um permanente processo incorporado ao espírito humano."

"Eu acredito em canibalismo obrigatório. Se as pessoas fossem forçadas a comer o que elas matam, não haveria mais guerras."

"A única maneira de apoiar uma revolução é fazer a sua própria."





Mais desengonços: