domingo, 3 de julho de 2016

Devastado pelas Intempéries



- Diga,
moça do tempo,
timbre de rouxinol,
o que resta na minha idade,
tomado de tempestade,
virado de vendaval?
Tem raio pra todo lado,
tem tormenta,
terremoto,
tem sismo,
tem eu sismado,
tem goteira no telhado
e tem roupa no varal
Tô tornado,
atormentado,
girado todo por dentro
feito chuva de vento
em tempo de temporal
De tanta cheia,
aguaceiro,
dilúvio, enchente,
toró,
em cada lufada de vento,
querida moça do tempo,
o homem fica mais só

- Por favor, sem pudor
Um homem de sua idade,
rigidez pela metade,
já reclamando de dor,
deve ignorar o clima,
jogar tudo pra cima,
e encontrar um amor
Tudo já está escrito,
na linha do Equador,
o vento sopra pro norte
e com um pouco de sorte
vai cessar o calor

- Mas este homem
que espera
pra esticar as canelas
que mais pode querer?
Só me resta uma  janela,
fresta de primavera
que se abre na TV
Atmosfera,
solstício
equinócio,
quase me dá um troço
se vejo você na tela
prevendo que vai chover
Só assim se vão as dores
que fogem ao meu controle,
remoto como você

- Na casa de trinta graus,
febre em elevação
Clima quente e ressaca,
dessa ninguém escapa,
desligue a televisão
Poucas dores esparsas
analgésico,
antigripal,
emplasto
uma visita no gastro
e no procto desta estação
É tempo de andar descalço,
sem a calça do pijama,
sobre o sereno do chão
Já faz mais de uma semana
que você não sai da cama,
coitado desse colchão
Você que acendeu a chama
que dance agora a ciranda
e segure agora a pressão:
findo aqui este programa,
que amor de tela plana
não cabe no meu verão



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