sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Meu Amigo Tem a Receita para Mudar o Mundo


Meu amigo Fábio tem a receita para mudar o mundo, mas ele não se contenta em prescrevê-la. No dia a dia, na cotidiana prática, Fábio pode ser encontrado com a mão na massa seguindo a própria receita.

Mutirão para revitalização de praças? Lá está ele, cavoucando o chão, enfiando mudas e sementes, esverdeando a cidade, cativando corações.

Esforço comunitário para a construção de casas com métodos alternativos, econômicos e ecologicamente corretos? Fábio está lá. Ergue paredes com sacos de areias e as reveste usando compostos do solo.

Ações visando o consumo autossustentável, o plantio baseado nas leis naturais (notadamente, a permacultura) e voltado principalmente à população local? Lá está o Fábio, de enxada, chapéu e inexaurível disposição.

Moradores de rua e artistas mambembes com a algo a dizer ou mostrar? Fábio abre braços, olhos e ouvidos. Está ali para ver, ouvir, aprender e abraçar.

Meninada paulistana ocupando escolas para defendê-las? Fábio quer saber o que dizem e do que precisam. Divulga suas necessidades e expõe os abusos da polícia militar.


Conta aí o segredo, cara

É bem provável que, como eu, Fábio não acredite que políticos possam mudar o mundo. Não para melhor, pelo menos. Ainda assim, como eu, Fábio sente a necessidade de se posicionar. E, ao se posicionar, coloca-se ao lado daqueles que (espera-se) sairão em defesa dos mais fracos, dos sem justiça, dos sem voz.

Então qual a receita de Fábio, esse cara que mora naqueles poucos metros quadrados que diz serem suficientes para viver? Quais os ingredientes dessa poção mágica, dessa feitiçaria social?

Já que ele não nos dá receita impressa (sinto muito, a culpa é dele) apenas nos resta deduzi-la.


Como Mudar o Mundo - Ingredientes essenciais:

Não esperar por governos.

Ações locais voltadas para o bem comum com o envolvimento de toda a comunidade.

Promover produção e consumo local.

Autogestão de recursos, ações e pessoas.

Consumo responsável.

Conforto para todos, luxo para ninguém.

Ausência de hierarquias impostas.

Fim dos preconceitos religiosos, morais e ideológicos.

Educação libertadora que promova o livre pensar.

Livre circulação de pessoas entre países. O fim das fronteiras.

Entender que cada pessoa nasce com direitos naturais e não pode ser considerada refém de um regime que não ajudou a construir.

Igualdade. Igualdade. Igualdade.

Liberdade. Liberdade. Liberdade.


Revoluções de Fábio

Não tenho dúvida de que faltam ingredientes na mihha sopa. A tentativa de adivinhar conceitos alheios, sem entrevista, sem consulta, tende à imprecisão.


Impossível saber, por exemplo, quais as alternativas de Fábio para que se coloquem em prática tais conceitos. Mas, mesmo aí, é possível atentar aos sinais que ele nos dá.

Basta perceber o que já percebemos: que Fábio une discurso e prática.


Jamais se limita à militância nas redes sociais.

Ele marcha de peito aberto pelas cicatrizes urbanas a lançar bálsamos sobre a cidade. Ele interage, ele questiona, ele participa, divulga.

Ele acredita na ação direta, sem estruturas rígidas, sem dogmas.

Ele acredita.

Fábio anda por aí a participar de revoluções. São revoluções de paz, de solidariedade, de consciências. São revoluções de esperança no coração do caos.

Embora moradores da mesma cidade (ou talvez por isso mesmo), nosso contato quase inexiste. Confesso que, de longe, invejo a disposição, a fé e a persistência de Fábio. Envergonho-me por não possuir (ou haver perdido) as mesmas qualidades.

Em passado distante, envolvi-me em atividades similares. Aos poucos, fé, disposição e persistência minguaram.


Fábio tem me devolvido algo daquela esperança. Espero que ele me inspire a encontrar, também, a disposição e a persistência perdidas.