Quando Tarzan vê a selva
de aço,
de asco
e dinheiro,
a cidade abafa o grito
de ira,
revolta,
desespero
Não há grito
que se ouça,
palavras
não são ouvidas
porque nesse surdo
faz-de-conta
de miséria dividida
cada um vai preocupado
em cuidar da própria vida
Passa carro
Passa batom
Passa gravata
Gira brinquedo de corda,
esta selva é dos primatas
Bicho aqui não sobrevive
sem rodar em quatro rodas,
sem andar em duas patas
pra assistir ao mundaréu
Tem gente comprando pano,
plástico,
enganos,
papel
Tudo bem planejado
pra tal viagem pro céu
Em sacolas,
vitrines
e olhos de espanto,
vê sonho,
engodo,
sorriso
e par de tamanco
Cada mulher,
um vazio
cada homem um desencanto
Tarzan salta pra calçada,
hesita,
respira
Cata seus carrapatos,
murmura
matuta,
admira
Tarzan!
Krig ha,
Rei dos Macacos,
ali está o seu retrato,
um manequim
e mentiras
Tarzan,
acocorado,
na vitrine refletido,
percebe que está pelado,
que gente
usa sapato
e desodorante vencido
Ei, Tarzan,
bicho abatido!
Forje meio sorriso
e cubra suas pudendas
Ei, Tarzan
bicho esquisito!
Este mundo está à venda
Se já sabe do vexame,
leve aqui pra sua Jane
linda lingerie de renda,
uma penca de vestidos