sábado, 12 de dezembro de 2015

Homem de Carro é Bom pra Você















 

- Pode não,
mamãe pode ver
Mamãe é esperta,
mamãe vai saber
Mas ela deixando,
até pode ser

- Querida filhinha
que começa a crescer
Sem escola, sem grana
Como é que vai ser?
Homem de carro
é bom pra você

Janela do céu,
porta do inferno
Festa e foto,
feijão, caviar
Riso, presente,
homens de terno
Mercedes, cartão,
vista pro mar

A mão, o beijo,
a blusa, a bunda
Anônima fama,
mídia e cama
Luxo, lixo,
ávido mundo
Pobre rima,
rica lama

Paris, Pis, SPC
Pó, bulimia
e LSD
Esquece, filhinha,
gente envelhece                        
Quinze minutos
tá bom pra você

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Pensei que já pensava




Quando estou
assim pensando
que penso
que penso bem
Não sei
se assim pensando
eu vou pensar
que pensei

Se pensei
que já pensava
e pensando pouco
pouco pensei,
quando pensei
cem por cento,
pensei que pensar
o que penso
nem é bem 
pensar pensamento


Por pensar
por tanto tempo
que tanto pensava
o que tanto pensei
Pensando,
o meu pensamento,
de tanto pensar
o que tanto pensou,
pensa naquele
que pensam
que pensas
que penso
que sou

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Onde está o seu Umbigo?



 "Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!

Tente! (Tente!)
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Han!
Tente outra vez!"
(Raul Seixas)

Os beatniks tentaram. Os hippies tentaram. Os punks tentaram. Jovens mundo afora ainda tentam. Você deve ter tentado. Eu estou quase desistindo de tentar.

Depois de tanta tentativa, no meio de toda poeira e poucas batalhas vencidas, o poder prevalece como o supremo senhor desta guerra permanente.

Não é difícil diagnosticar as razões de vitórias e derrotas. O poder é dono de algo que nenhum movimento cultural / social possui: a Informação.

E nenhuma arma pode ser mais importante do que a Informação durante as lutas sociais. Quando aqueles que se localizam na base da pirâmide econômica exigem a redução de privilégios dos que se locupletam lá no topo, a artilharia pesada da imprensa chega de assalto.

Então basta bombardear a opinião pública com notícias selecionadas, cuidadosos jogos de palavras e eufemismos, vários pesos e várias medidas, opiniões dissimuladas, proteção de aliados políticos e patrocinadores, edição de entrevistas, crítica rasa e análise superficial.


O que surpreende é que esse não deveria mais ser o estado das coisas. Não nestes tempos de internet. Não nestes tempos em que quase tudo pode ser checado, em que para cada ponto há um contraponto, para cada argumento um contra-argumento, para cada bunda uma opinião.

Diz-se hoje que cada um olha apenas, não para a própria bunda, mas para o próprio umbigo.

Digo eu: que bom que fosse assim. O que realmente acontece é que a maioria (sob a luz das câmeras, mas sem nada ver) zela pelos umbigos lustrosos de uma minoria.

A arma Informação atinge seu alvo. A maioria não sabe que é maioria. Não sabe que está na base da pirâmide ou alguns degraus acima. Não sabe que se apoiasse movimentos sociais teria apenas a ganhar.

Ou talvez saiba. Mas não quer ser vista lá, com aquela gente.

Então, a maioria da maioria, bombardeada por desinformações, chavões e repetições de mentiras, bandeia-se sorridente (ou raivosa) lá para as trincheiras do poder. Vai polir umbigos como ninguém.


Outros desengonços: