sexta-feira, 4 de maio de 2018

Você já alimentou seu ódio hoje?



Eu não sei você, mas eu nunca simpatizei com o kkk do Facebook e afins. Prefiro um cúmplice hehe, um mais enfático haha ou mesmo o discreto e fora de uso rss. Sem falar das mais variadas gargalhadas, piscadelas e sorrisos em forma de emoticons.

Eu não sei você, mas o kkk me lembra deboche, não o riso.

Além disso, é impossível não relacionar o kkk à KKK. Não é sugestivo que nossas risadas virtuais remetam à Ku-Klux-Klan?

Mas o kkk se tornou secundário - quem diria? Restou apenas pequena implicância. Porque agora expressões bem mais significativas pedem atenção permanente.

Lixo é uma delas.

Fulano clica no link e se abre um texto de oito páginas. O autor cita fontes e referências, usa argumentos lógicos, incentiva o debate cordial. Fulano rola suas oito páginas em dois segundos. Na caixa de comentários, Fulano deixa sua impressão - Parei na segunda linha. Lixo!!!

Já Sicrano, mais propositivo, quando compartilha uma postagem, costuma carimbá-la com duas expressões inabaláveis e definitivas: Fato! e Com certeza!

Geralmente o Fato! não é fato, e a certeza vem do Fato! que não é fato.

E vá você falar de justiça, igualdade e outras necessidades humanas! Abaixe-se porque vem uma saraivada de adjetivos. Esquerdopata, feminazi, aliado de bandido e defensor de vagabundo se apresentam como os mais suaves.

Eu não sei você, mas eu venho pensando - talvez seja necessário um desarmamento unilateral. Embora oferecer flores não pareça promissor, não dá para ser cúmplice da violência

A pergunta é: como agir nessa atmosfera de agressão verbal, xingamentos e certezas vomitadas?

Deveríamos:

(  ) Insistir no diálogo?
(  ) Pagar na mesma moeda?
(  ) Ironizar?
(  ) Ignorar?
(  ) Denunciar algumas postagens, quem sabe?

Eu não sei você, mas eu já tentei as três primeiras alternativas e estou na penúltima. Penso que continuo errando.

Procurei a resposta em grupos relacionados à Comunicação Não Violenta (CNV) no Facebook. Por certo ali estaria a pedra de toque que transformaria relações e feeds.

O praticante de CNV sabe que é preciso, antes de tudo, escutar. Ele aprendeu que por detrás de determinada palavra ou atitude existem necessidades não expressas.

Disse Marshall Rosenberg:

"As pessoas que parecem monstros são apenas seres humanos cuja linguagem e comportamento às vezes nos impedem de perceber sua natureza humana."

Mas, mesmo nos grupos de CNV, não se encontra consenso quanto à forma de se relacionar com aquele que demonstra racismo, homofobia, xenofobia, sexismo, preconceito religioso ou de classe social. O negócio é tão complicado que já saiu até treta por lá.

Eu não sei você, mas eu ainda quero acreditar nas centelhas que, aqui e ali, tentam alimentar uma onda de bom senso e cordialidade. Devo porém confessar que minhas esperanças se esvaem já na segunda página do Facebook.

Se você tem a solução, diga aí. Como dialogar com o sujeito que esperneia pelo direito de chamar o outro de viado, macaco ou vagabundo e que adora acusar de coitadismo as eventuais vítimas?

Resumindo a questão - como tolerar o intolerante?

Eu não sei você, mas eu não sei.


Mais do mesmo:

terça-feira, 1 de maio de 2018

Um chá surpresa pra vocês


Acordei na mesma hora
de acordar toda manhã
Beijei Nossa Senhora
pedi benção de Iansã
Pendurei no meu busanga,
Brasilândia - Jaçanã

Um bom-dia
um sorriso
uma pilha de papel
Boleto tudo atrasado
bilhete de entrar no céu
Pura pobre alma penada
nesta vida de aluguel

Ralo a manhã inteira
e a mesa ainda lotada
Divido comigo mesmo
arroz, ovo e uma salada
Água limpa da torneira
se possível bem gelada
Sempre aquela sobremesa
queijo com goiabada
A conta nem vem pra mesa
fica lá dependurada

Não se acaba esta semana,
vai dar dez e não dá seis
Tá cheio de bambambã,
tudo falando inglês
Não espero até amanhã
pra acabar tudo de vez
No chazinho de hortelã
tem surpresa pra vocês 

Então penso na merreca
que recebo todo mês
É só isso que me breca
de ferrar com dois ou três
Se aqui é uma merda
imagina no xadrez

 O corpo que vai pra casa
retorna vazio amanhã
Leve a alma, seu Satã,
devolva no fim do mês
Resta pra esta casca
fazer o que sempre fez
No Brasilândia-Jaçanã
sacolejar mais uma vez