sexta-feira, 13 de abril de 2018

Absinto ou sacolé?



Provar absinto
Não o café
Homem parir
Não a mulher
Dar a carícia
Não pontapé
Maria com João
Não com José
Irmos de Boeing
Não mais a pé
A culpa do rei
Não da ralé
Telha de vidro
Não de sapé
Andar para frente
Não mais de ré
Vivermos de luz
Não de filé
Fungar no cangote
Não no rapé
Medo da chuva
Não de Noé
Sessão proibida
Não matiné
Almoço completo
Não canapé
Piano de cauda
Não oboé
Suíte especial
Não mais chalé
Passos de tango
Não de axé
Dar beijo na boca
Não tiro no pé
Pintar as estrelas
Não rodapé
Sorvete italiano
Não sacolé
Dança moderna
Não mais balé
Cavalo selvagem
Não pangaré
Cumprir o contrato
Não dar migué
Ser galo de rinha
Não garnizé
Ser gente ligada
Não Zé Mané



quarta-feira, 11 de abril de 2018

Uma Forma Chique de Morrer



Julgo, 
invejo,
reclamo
sempre
e demais
Passo tempo
em passatempo
sem pensar
em todo tempo
que eu passei
sem pensar

Lamento,
resmungo,
escorrego,
esnobo,
assisto TV
Curto sempre
o mesmo link
porque agora
é muito chique
esta forma de viver

Agarro-me às paredes
deste lugar
de morar
Saciada fome,
saciada sede,
pacatos neurônios
em paz
O resto,
adorado
deus Mercado,
você há de regular

Não,
desculpe,
não tem lagosta
Chandon
caviar
Mas,
deixe estar,
tá tranquilo
Tem tudo aquilo
que trabalho
suado
ou suor
explorado
pode comprar

Bem sei 
quem represento
Homens nobres,
gente com cobre,
mulheres de bem
Manicômio,
prisão,
gás,
linchamento?
Um momento!
Apenas pra quem
me convém
O que vale
a vida
humana
perto de
nota de cem?

Tudo bem,
eu confesso
Nunca vi lá no alto
Do chão,
eu nem sei o cheiro
Mas,
aquele grito de escravo,
aquele grito
de medo,
queridos senhores de engenho,
morreu ali
pelo meio

Porque,
se é pra ter certeza,
que ela
seja absoluta
Eliminar toda disputa
de gente
sem pedigree
E pra você
aí da limpeza,
 só me resta
uma pergunta:
- Para onde,
José,
para onde?
Haiti ou Piauí?
Porque
para passar fome,
criança,
mulher
ou homem,
que seja longe daqui