Pés
nus
sobre
o ladrilho frio
No
lábio inferior,
sorrisos
tremem
e
lembram sabores -
todos
recentes
Nos
seios expostos,
na
pele rubra,
a
evidência de quem foi,
por
uma noite,
violentamente
mulher
Que
alguém toque um blues,
bem
antigo,
baixinho,
quente
como os covis
E
que esse blues,
tocado
assim,
em
notas de perdição,
restaure
as volúpias,
recolha
as culpas
e
as migalhas
do
amor que restou aqui
Desejos
de sair às ruas,
mulher
de Almodóvar,
em
batons,
risos,
cores
trágicas
e
uma dor senil
Sair
assim,
sob
chuva fina,
por
ruas desertas,
por
silêncios
e
descasos
Sorrir
como a alma
vermelha
da
flor que morre no peitoril
Ah,
cidade de céus atuais!
Cidade-instante,
anacronias,
quimeras,
horas
que luzem nos cristais,
e pêndulos
e pêndulos
Homem
assim distante
nem
mesmo existe,
porque
é homem de outro lugar,
de
outro tempo
e amores
Por
isso,
ou
por vício,
recebe-me,
metrópole
descabelada,
orquestra
de ilusões ensaiadas,
desarmonia
perfeita,
instrumentos,
dissonâncias
e
músicos que deixam a barba por fazer
Recebe-me
sem honras,
minha
pobre,
dura
e
áspera
sinfônica
de metais