quinta-feira, 23 de junho de 2016

Esquivas de Serpente


Vivia de lirismos,
audácias
e esquivas de serpente
Evitava
vergões de aço,
abraços,
frituras,
casa de parente
Rejeitava
agruras,
queixumes,
bons costumes,
perfume
e o lugar comum dessa gente

Sorrateiro, entre missas,
entrava nas catedrais
Pedia a São Francisco
numa língua de pardais:
- Você distrai o bispo,
os ricos
e meia-dúzia de cardeais
Eu vou roubar o dízimo,
beber água do batismo,
e refletir os vitrais
(Porque homem de siso
sabe o que é preciso
para agradar ao Pai)

Sóbrio, entre bêbados,
entrava nos botequins
Falava a língua deles,
russo, alemão, mandarim
Pedia água da torneira,
palito,
alguns amendoins
Depois, de barriga cheia,
subia na cadeira
pra recitar Bakunin

Romântico, entre flores,
entrava pelos quintais
Ouvia orquídeas,
miosótis,
e até cravos banais
Em cada passo,
os pássaros
reconheciam os sinais
Cantavam,
polinizavam,
exibiam as feridas,
desprezavam a vida
dos homens normais


Desengonços do mesmo naipe:

Um comentário:

  1. Muito bom!!! (Aliás, como a grande maioria!!!) ��������

    ResponderExcluir

Comente com o Facebook