domingo, 11 de dezembro de 2016

As Bonitinhas do Burguês


Carlos Schwabe (A Faun)

Minhas ideias
não são à prova de bala
Não atire!
Minhas ideias
não são
fonte de juventude
nem são
promessa de eternidade
Minhas ideias
adolescem,
convalescem,
envelhecem
lá na maternidade
(Falta fazer uma visita)

Minhas ideias tem
cinquenta e um
tons de luz
(enganei você)
Minhas ideias tem
quarenta e nove
tons de sombra
(Dois tons a mais,
bem feita a conta,
garante a paz
no meu faz-de-conta)

Minhas ideias,
às vezes,
quase sucumbem de vez
Minhas ideias
perderam o senso,
perderam o sono,
pagaram o mico
e a conta de todo mês
Minhas ideias
todas elas,
toleráveis,
impenetráveis celas
bonitinhas de burguês

Minhas ideias
quase sempre
presas na roda viva,
forjadas na aridez,
passaram buraco,
passaram roupa e trabalho
por fim passaram a vez

Mas ideias
renascidas
esquecidas de clichês
vão abrigar os olhos
de serpentes coloridas
colhidas na lucidez

Minhas ideias
hoje libertas
encontram sátiros,
Fauno,
Baco,
tem pacto de embriaguez
Prometem néctar,
ambrosia,
fantasia
e um carneiro montês

Minhas ideias
não eram minhas
Minhas ideias
eles criaram,
enfiaram,
na cabeça bem aqui
Então recolhi lembrança,
pensamento de criança,
de novo revivido
ressuscitei e parti

Agora,
por onde quer que eu ande,
naquele caminho grande
do Oiapoque ao Chui,
insiste, lateja o sangue
nascido lá no Rio Grande
nas veias deste guri





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