Percebo que você está atônito. Você vê o opressor voltar
sobre os ombros dos oprimidos, vestindo a capa da barbárie, cheio de bravatas,
dedo em riste, cuspindo arrogâncias. Ao contrário do passado, ele nada precisa
impor. Agora ele tem o voto, ele tem a cumplicidade ou a ingenuidade de quem
aplaude seu discurso de selvageria e atraso.
Percebo que você está frustrado. De tanto esmurrar ponta de
faca, você perde o sono, o humor, as estribeiras. Você perde a fé na
humanidade.
Percebo que você está abatido. Você teme ver tudo acontecer
novamente. Você teme por seus filhos, por seus netos, pelas gerações que talvez
não tenham mais direito à voz.
Você procurou o diálogo e ouviu frases feitas. Propôs
questões complexas e ouviu respostas simplistas. Você revelou que o mundo lá fora
está perplexo, você compartilhou as ideias daqueles que aprofundam o pensar,
tentou investigar além da superfície, dos adjetivos, das provocações, dos memes
e das notícias falsas.
Você tentou dialogar, tentou evidenciar o óbvio porque os
mortos da história não podem se manifestar.
Percebo que você se sente só. Mas você não está. Você tem a
companhia daqueles que ousam acreditar. Talvez a mochila da intolerância se
revele pesada demais, mesmo para seus seguidores.
Que nossas redes de afinidade, de solidariedade, de paz e gentileza possam arrefecer a marcha embrutecida de um capitão simplório.
Que nossas redes de afinidade, de solidariedade, de paz e gentileza possam arrefecer a marcha embrutecida de um capitão simplório.
Porque ainda nos resta essa empatia, resta-nos esse apoiar
uns aos outros nos novos tempos que já nascem envelhecidos. Resta-nos essa
resistência conjunta aos coturnos de cinco décadas que chutam a porta de nossa
história.
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